Comunicação não violenta: em busca de novas formas de ser e estar no mundo.
- Isabel Torres
- 23 de jul. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 27 de jul. de 2021

No mês de maio, participando como ouvinte de uma Roda de Conversa¹ sobre Comunicação não violenta, o psicólogo Raum Batista², a quem agradeço publicamente, me possibilitou abrir algumas janelas sobre o tema, compartilhando os pressupostos, referencias e exemplos práticos de estratégias humanizadas de atendimento.
Busquei uma das leituras indicadas, o livro “Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais” de Marshall Rosenberg e compartilho aqui as minhas reflexões.
Rosenberg, estudou e trabalhou com o psicólogo humanista Carl Rogers, agregando a influência deste no método de resolução pacífica de conflitos. Após 20 anos de experiência clínica em Psicologia, tomou como ponto de partida a cultura de guerra, expressa cotidianamente na nossa linguagem e relacionamentos, para buscar o encorajamento a novos modos de estar e nos articular com os outros e com o mundo.

Ao ler o livro, que propõe ancorar a comunicação na empatia, é mais fácil enxergar que vivemos numa sociedade e cultura violentas. Essa violência é expressa no cotidiano das nossas relações, das nossas falas e memórias.
“A comunicação não-violenta (CNV) se baseia em habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas”. Ela estimula a expressão com honestidade e clareza, numa atenção respeitosa e empática. Ensina a auto observação cuidadosa dos nossos comportamentos, bem como a identificar e expressar claramente o que de fato desejamos.
De acordo com o autor, esta forma de comunicação diminui a resistência, as posturas defensivas e reações violentas. O objetivo dessa forma de comunicação não é mudar as pessoas para alcançarmos objetivos e sim “estabelecer relacionamentos baseados em honestidade e empatia, que acabarão atendendo as necessidades de todos”.
O processo da CNV compreende: observar as ações concretas que afetam o nosso bem estar; Como nos sentimos em relação ao que estamos observando; As necessidades, valores, desejos que estão gerando nossos sentimentos; As ações concretas que pedimos para enriquecer a nossa vida.
Marshall nos estimula a perceber que o que sentimos é responsabilidade nossa e dialoga com a nossa história de vida, não sendo causado pelo outro, como costumeiramente expressamos nos nossos diálogos: “O que os outros dizem e falam pode ser o estímulo, mas nunca a causa de nossos sentimentos”.
O autor didaticamente propõe uma série de exercícios, como por exemplo: “1. Distinga sentimentos de pensamentos: o que sentimos e o que pensamos que somos; 2. O que sentimos e como achamos que os outros reagem a nosso respeito; 3. Exercite a sua capacidade de descrever os seus sentimentos”. De acordo com Marshall, nomear ou identificar as nossas emoções nos conecta mais facilmente uns com os outros.
O livro nos alerta a não estigmatizar o outro, a não aprisioná-lo em rótulos: “o bagunceiro, o preguiçoso”. Essa seria uma forma de “comunicação alienante da vida”, pois utiliza argumentos moralizadores que subentendem uma natureza errada ou maligna nas pessoas que não agem em consonância com os nossos valores”.
Marshall identifica as necessidades insatisfeitas na raiz dos sentimentos negativos. O julgamento dos outros é identificado como expressões alienadas das nossas próprias necessidades insatisfeitas: “Ao julgarmos que alguém está errado, ou agindo mal, o que estamos realmente dizendo é que essa pessoa não está agindo em harmonia com as nossas necessidades”.

Neste ponto, Marshall nos convoca a sermos mais compassivos com nós mesmos, com as nossas fragilidades, além de buscar compreender os sentimentos e necessidades insatisfeitas do outro, que podem estar por trás de uma crítica ou mensagem negativa.
De acordo com o autor “A partir do momento em que as pessoas começam a conversar sobre o que precisam, em vez de falarem do que está errado com as outras, a possibilidade de encontrar maneiras de atender às necessidades de todos aumenta enormemente”.
Considero, portanto, que o livro vale à pena ser lido e relido, para que possamos refletir e acessar mais profundamente as nossas diversas camadas de comunicação, tão transpassada pela violência cotidiana e estrutural da nossa sociedade. Como relata um trecho do livro, "as palavras podem ser muros ou janelas", podem nos libertar e fazer com que enxerguemos novas possibilidades, ou nos aprisionar.
Praticar a comunicação não violenta requer um exercício contínuo de consciência, reflexão, que pode abrir caminhos: "abaixando as armas" e nos conectando empaticamente com as necessidades coletivas, podemos gerar novas formas de ser e estar no mundo.
Isabel Torres, Psicóloga, integrante do Redefinir, Psicologia e cuidado em rede.

Link site Redefinir: Psicoterapia | REDEfinIR- Psicologia e Cuidado em Rede.

Notas:
1. Palestra promovida pela empresa Mana Pinho e Associados para Conselheiros Tutelares e profissionais do SUAS.
2. Raum Batista é um Psicólogo mineiro, radicado no Rio de Janeiro, pós graduado em Atendimento Sistêmico e Redes Sociais (PUC Minas). Trabalha na Associação Brasileira Terra dos Homens.
Referências:
Marshall Rosenberg. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo: Ágora, 2006.
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