Todos temos o direito de contar a nossa história...
- Isabel Torres
- 13 de jul. de 2023
- 2 min de leitura
Que histórias da sua vida você nunca contou, silenciou?
Quais histórias sobre as suas origens te envergonham, te constrangem?
Por quem são contadas as histórias que te constrangem, te causam desconforto?
Como você contaria essa história?
Quais histórias da sua vida, do seu povo, te orgulham?
Quais histórias te fortalecem?
Quais histórias têm função restaurativa na sua vida?

Seguindo com a reflexão iniciada no último post do Blog sobre "Os perigos da História Única", baseado na fala de Chimamanda Adichie, teço questionamentos que se posicionam nas entrelinhas que ligam o pessoal, ao social, o histórico, ao terapêutico. Adelite Mukamana (2002), apresentando a perspectiva ruandesa de Saúde Mental, afirma: “A Saúde Mental é concebida como resultado da coesão social”. Logo, as injustiças, opressões, negação de direitos, são questões que refletem tanto na saúde mental, quanto no nosso tecido social, e são representadas tanto nas diferenças entre as condições materiais de existência, como também nas histórias contadas, recontadas, reproduzidas.
As Práticas Narrativas, inauguradas por Michael White e David Epston, concebem que "O pessoal é político", uma das perspectivas que norteiam estas reflexões. David Demborough, Assistente Social, expoente das Práticas Narrativas defende o direito de contar histórias e apresenta uma importante declaração:

"Declaração da Terapia Narrativa sobre o direito de contar histórias:
1. Todos têm direito de definir suas experiências e problemas com suas próprias palavras e termos.
2. Todos possuem o direito de compreender suas vidas com base no que já viveram e com base em suas relações com as outras pessoas.
3. Todos têm o direito de convidar outras pessoas que são importantes para o processo de refazer suas vidas depois de um momento difícil.
4. Todos nós temos o direito de ficar livres de ter os problemas causados por traumas e injustiças localizados dentro de nós, internamente, como se tivéssemos alguma deficiência. A pessoa não é o problema, o problema é o problema.
5. Todos têm o direito de ter sua resposta/ação reconhecida quando vivem um momento difícil. As pessoas sempre respondem/agem quando surge uma dificuldade em suas vidas.
6. Todos têm o direito de ter suas habilidades e conhecimentos de sobrevivência respeitados, honrados e reconhecidos.
7. Todos nós temos o direito de saber que aquilo que aprendemos quando vivemos momentos difíceis pode contribuir para a vida de outras pessoas em situações semelhantes".

Que possamos exercer o direito de contar a nossa história!
Isabel Torres, Psicóloga, integrante do Redefinir, Psicologia e cuidado em rede.
Link site Redefinir: Psicoterapia | REDEfinIR- Psicologia e Cuidado em Rede.

Referências:
-ADICHIE, C. O perigo de uma história única.
-DEMBOROUGH, D. Declaração da Terapia Narrativa sobre o direito de contar histórias. Curso O que é Prática Narrativa? Dulwich Centre e Reciclando Mentes. Disponível em https://cursos.reciclandomentes.org/courses/o-que-e-pratica-narrativa-curso-gratuito/#:~:text=%C3%A9%20Pr%C3%A1tica%20Narrativa%3F-,Curso%20Gratuito,li%C3%A7%C3%B5es%E2%80%9D%20ou%20%E2%80%9Ccap%C3%ADtulos%E2%80%9D.
-MUKAMANA, A. Como abordar o Trauma sem retraumatizar. Associação Reciclando Mentes, Dulwich Centre (Austrália) e Ibuka Centre (Ruanda), julho de 2022.
Perfeito!!!
São tantas narrativas silenciadas, que o acesso à terapia deveria ser considerado uma questão real de saúde pública, com democratização e ampliação do acesso.
Parabéns, Bel, pelo texto.
Parabéns meninas, pelo belo trabalho!